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História de amor

Recebi o convite e, com ele, o desafio de manter uma coluna quinzenal no blog do Ganja Talks sobre cultura, com aquele leve twist para a antiga, intensa e contraditória história de amor entre a cannabis e o universo do cinema, temas que são a minha praia. Sou cineasta e diretor do documentário O Verão da Lata, lançado em 2014, que aborda a incrível história das 15 mil latas de maconha que fizeram a cabeça dos brasileiros em 1987.

A cannabis tem história milenar, enquanto o cinema é coisa do início do século XX. Porém, o audiovisual e a maconha encontram convergências nesse caminho, sobre as quais pretendo me aprofundar ao longo dessa jornada como colunista.


Segundo minhas pesquisas, o começo da relação entre cinema e a cannabis foi super negativa. Em 1938, o filme "Reefer Madness" foi um marco na demonização da planta para a sociedade – reflexo de uma política que marginalizava seus consumidores no país e prova do poder de produtos culturais na construção social.


Nessa época, o cinema era uma mídia de propaganda descarada aos interesses da elite. E os filmes eram uma propaganda explícita do preconceito dos brancos em relação aos negros e mexicanos, com a desculpa da maconha. E este não foi o único filme com este intuito, depois tiveram mais alguns, como o "Marihuana" e o “Devil's Weed” - todos ridículos, aos olhos de hoje.


Marihuana

Devil's Weed

Pulando aos Anos 80, período muito mais divertido e colorido que os anos 70, onde surgiu a primeira produção cinematográfica em que a maconha era protagonista - e não, não era um filme de denúncia ou anti-canábico, era uma comédia. O "Up in Smoke" da lendária dupla Cheech & Chong, lançado em 1978, abriu as portas para mais filmes desta dupla e vários outros no mesmo estilo. Dessa forma, a maconha começa a fazer parte do lado, digamos, engraçado da sociedade, não mais ameaçador ou perigoso.


Up in Smoke



A lista do IMDB (Internet Movie Data Base) é enorme para filmes que envolvem maconha. Confira aqui e aqui.


Canais a cabo também começaram a investir em séries com a temática canábica, a exemplo de títulos como “High Maintenance”, “Weeds” e outros. O legal desta nova fase é que não tem mais aquele peso do preconceito, que mesmo as produções de comédia dos anos 80 e 90 tinham. Agora a maconha é vista como parte da sociedade, em todos os níveis. Os intermediários não são mais negros ou mexicanos, é gente de classe média, como a protagonista do Weeds, Nancy Botwin, encenado pela atriz Mary-Louise Parker, uma mãe num subúrbio americano que vende maconha para seus vizinhos e amigos para sustentar a casa. Ou mesmo o The Guy, do High Maintenance, um carinha gente fina, simpático e ciclista que vende maconha em Nova Iorque.


Desde que o Youtube apareceu, a quantidade de canais que tratam do assunto é enorme. Nem me atrevo a colocar alguns links aqui porque com certeza vou esquecer muitos e você, ligado no Ganja Talks, já conhece vários.


Recentemente, tivemos a notícia de que o cineasta Fernando Meirelles e seu filho, o Quico Meirelles, estão produzindo uma série para a HBO Brasil chamada Pico da Neblina, que se passa num futuro (não muito distante), em que a maconha foi legalizada no Brasil. Saiba mais aqui.


Nesse breve histórico, podemos perceber como a imagem da cannabis muda e é moldada pela cultura, que tem papel importante na desmistificação e na normalização dessa erva pela sociedade. No próximo texto, falarei mais dessa importante relação, fique esperto.


Tocha Alves é cineasta e dirigiu o documentário O Verão da Lata (2014), que aborda a incrível história das 15 mil latas de maconha que surgiram na costa sudeste do Brasil e fizeram a cabeça de muitos brasileiros em 1987. O assunto, considerado uma lenda urbana, foi esclarecido com o filme, que hoje continua a influenciar novas gerações de entusiastas da cannabis.

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