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Filme B


Minha estreia como espectador de filmes de maconha não foi muito animadora. Foi nos anos 90, com o Reefer Madness (1936), um filme extremamente contra a maconha, sobre o qual falei na primeira coluna no GT. O assisti mesmo antes de ver Cheeck & Chong, olha que absurdo! Desde então, tenho procurado coisas sobre o tema constantemente.


Tem um termo famoso no cinema, o "filme B", que é quando um filme é ruim. Mas não só isso, afinal, tem filmes ruins que não são "B". Esse termo vem das décadas de 30 e 40, e na época significava que a produção não tinha estrela. Filmes com grandes estrelas eram A, segundo classificação antiga dos estúdios de Hollywood, criada depois da quebra da bolsa de NY, em 1929. Isso porque nessa época surgiram os filmes baratos, normalmente de gêneros cinematográficos diferentes e mais obscuros, como ficção científica e terror.


Além disso, existia ainda a cultura das sessões duplas, onde sempre rolava um filme "A" e um "B", já que nesta época os estúdios também eram donos das salas de exibição. Mas, em 1948, uma lei anti-trust os impediu de continuarem tendo toda a cadeia de produção e exibição. E, desde então, a era de ouro dos "filmes B" se foi.


E "filme B" acabou virando um adjetivo popular para filmes não tão bons, ou mesmo ruins, nas décadas que seguiram. Porém, quando se fala de cinema de nicho como a maconha, o tempo passa e o que era considerado ruim passa a ter valor histórico. Não que sejam bons filmes, mas é legal de ver como eram naquele tempo, viram filmes nostálgicos. E, com o tempo, eles passam a ser filmes cult, o que é assunto para outra coluna.


Selecionei alguns “filmes B” de maconha, ou com maconha na trama, que seguem meus critérios para essa categoria, você concorde ou não. Claro, não me considero o dono da verdade e estou aberto a discutir isso.


Vou começar falando de um “documentário B”. Sim, também existe documentário ruim, claro. Mas, como eu disse, filmes assim viram históricos e nostálgicos. Um exemplo é o Acapulco Gold, produzido em 1973. Sim, o mesmo nome da strain mexicana famosa nos Estados Unidos desde a década de 1960. O filme basicamente mostra exemplos de plantações, colheitas e tráfico. Super bem intencionado, com certeza feito por um ativista que queria mostrar o quanto a maconha estava difundida na cultura americana em 1973. Apesar de proibida, a cannabis era considerada uma droga leve, que preocupava mais as famílias do que a polícia. Isso até 1983, quando Ronald Reagan na presidência dos EUA trouxe a "War on Drugs", e toda e qualquer droga passou a ser perseguida.


É até sacanagem eu chamar este filme de "documentário B", porque ele prestou um bom serviço à comunidade. Imagino que os jovens dos anos 70 devem ter achado demais! Mas, olhando com os olhos de hoje, em 2018, vejo um documentário tecnicamente careta – perdoem-me a cobrança. Feito em película 16mm, deve ter dado um bom trabalho e custado um bom dinheiro, mas (verdade seja dita!) é difícil de assistir, lento e com a fotografia meio feia.


Mas, da maconha fala muito. E é legal de ver como existia em muitos lugares de forma selvagem, sem ninguém ter plantado, como erva daninha mesmo. O doc mostra também as tentativas de fazendeiros para se livrarem delas, sem sucesso. E os estudantes invadindo os campos a noite para roubar as flores. Bem interessante essa história.

Outro filme cujo nome homenageia a genética mexicana, o homônimo Acapulco Gold, de 1976, é considerado um verdadeiro "fime B". Se trata de uma ficção que, de tão vagabunda e mal feita, é engraçada. O jovem ex-evangelizador Marjoe Gortner se mete em um esquema de tráfico de maconha no Havaí. Acredito que se inspirou no Cheech & Chong, porque é uma comédia feita para maconheiros.


O MaryJane, de 1968, conta a história de como a maconha faz mal para os jovens. É um filme muito careta em vários sentidos cinematográficos e de conteúdo. Aproveita-se de símbolos dos anos 60 considerados cool para transformá-los no estereótipo do maconheiro - além de ter atuações péssimas, ser preconceituoso e mentiroso. Vai na linha do Reefer Madness, de que se você fumar vai fazer o mal. A diferença é que os personagens são da classe média americana dos anos 60, e não mais só os negros e mexicanos ameaçadores. Se você tiver paciência, aqui os links para o filme em duas partes (parte 1 e parte 2), no Daily Motion, e o trailer.


O último filme da lista pode ser questionado por algumas pessoas se é mesmo um “filme B”, embora eu ache que é. Se trata de um filme francês chamado Cannabis, mas que nos Estados Unidos foi lançado como French Intrigue. É uma ficção que conta a história de Serge Morgan, um assassino que trabalha para a máfia americana, que voltando para Paris conhece a filha de um embaixador no avião. Quando chega ao aeroporto de Orly, o chefão do tráfico na França armou uma para ele, que apela para a nova namorada e seu influente pai para se livrar da bagunça. Claro, se apaixonam, se separam, sofrem e têm um final feliz.


Deve ter custado muito caro, pois tem no casting alguns atores franceses proeminentes na época, como Serge Gainsbourg e Jane Birkin (que virou sua esposa depois do filme). Um parêntesis sobre Serge Gainsbourg: ele morreu em 1991 e foi um dos artistas franceses mais populares do século passado. Cantor, compositor, pianista, poeta, pintor, roteirista, autor, ator e diretor. Fez muita coisa, mas seu maior sucesso foi Je t'aime... moi non plus, uma música feita para sua namorada na época, Brigitte Bardot. Inclusive, na gravação original, tem o áudio de uma transa entre os dois mixada no meio da música. Isso causou muito na época. Me pergunto se o Serge era um usuário assíduo de cannabis.


No mais, te deixo com essa pergunta e me pergunto o que você achou dessa coluna. Tem algum “filme B” que não poderia faltar e deixei de fora? Me encontre nas redes sociais, como Instagram, para me dar esse feedback. E até a próxima!

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