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Trimmigration: como é trabalhar em uma fazenda de cultivo?


O trimming, a manicure dos buds canábicos, é um processo necessário da preparação da maconha para venda no mercado legal - antes de chegar aos dispensários, onde são belamente exibidos, os buds passam pelas habilidosas mãos dos trimmers, profissionais que os secam e "trimam", ou seja, cortam seus galhos e folhas, garantindo ao consumidor um produto esteticamente atraente e limpo. Nos mercado canábico dos Estados Unidos, o trabalho que requer destreza, rapidez e paciência é atraente para jovens, imigrantes do mundo todo, dispostos a trabalhar por uma temporada nas fazendas de cultivo para levantar uma grana - cada cerca de meio quilo de buds trimados valem, em média, US$150 ao trabalhador, cash in hand. Na vasta maioria dos casos, um trabalho ainda ilegal - e traz os riscos que a palavra carrega.


Mas, afinal, como funciona esse movimento? Para entender a dinâmica de trabalho em fazendas de cultivo, conversei com dois brasileiros que tiveram essa experiência nos últimos meses. Maria*, que passou duas temporadas como trimmer em fazendas na Califórnia e em Oregon, e Pedro*, que trimou em duas fazendas californianas de outubro do ano passado até agora. Embora os estados mencionados tenham legalizado o consumo recreativo de cannabis, a função dos trimmigrantes continua às margens da legalidade, em muitos casos - motivo pelo qual a identidade dos entrevistados permanece preservada.


O primeiro passo? “É bom você ter um contato, porque os lugares são muito fechados, né? Eles têm medo de receber qualquer um porque tem muito dinheiro envolvido, é o lugar onde ficam as plantas", afirma Maria. Mais do que garantir a confiança dos patrões, ter uma referência é importante para a própria segurança - uma simples busca sobre trimmers na internet é suficiente para encontrar relatos de quem foi enganado, de alguma forma, por esse tipo de negócio. Pedro, que também começou a trabalhar em fazenda de cultivo através de amigos, afirma que, com ele, nunca rolou nada parecido.


Nas fazendas, homens e mulheres de diferentes países e backgrounds se empenham em realizar o trabalho manual com agilidade, já que o pagamento é proporcional ao peso de buds preparados. "Quanto mais rápido você trabalha, mais dinheiro você faz. E o pessoal gosta de gente de fora, porque falam que a gente dá mais duro", explica Maria. Para o brasileiro, o expediente só terminava quando ele atingia a quantidade de buds trimados que tinha estipulado. "Só parava de trimar depois de fechar alguma quantia de pounds, ou parava às 22h", afirma ele. A função que parece simples - ficar sentado à mesa por cerca de 10 horas por dia limpando buds - se mostra desafiadora e cansativa, principalmente para quem não tem o perfil para a função. "Se a pessoa for muito elétrica, ela não vai conseguir ficar ali sentada trimando o dia todo", explica Pedro. Por outro lado, quem curte trabalhos manuais pode se dar bem como trimmer. "É cansativo, porque você fica fazendo as mesmas coisas, mas é legal, porque você vai conversando com o pessoal", pondera Maria.


Os modelos de fazendas de cultivo variam, mas, normalmente, são familiares, casais ou grupos de amigos que tocam o negócio. Enquanto isso, os trabalhadores sazonais se acomodam em barracas de camping, tendas ou trailers durante a temporada - se derem muita sorte, podem até ter um espaço na casa principal, coisa que não é lá muito comum. As refeições são oferecidas pelos patrões, assim como, em muitos casos, a ganja. "Você podia fumar à vontade do que estava ali e, normalmente, tem mais de uma variedade, são várias", explica Maria. Pedro também tinha passe livre para consumir cannabis nas fazendas onde trabalhou, com a condição que seu rendimento se mantivesse alto. "Pode fumar enquanto trabalha sem nenhum problema, só isso não atrapalhar seu rendimento. E tem alguns patrões que não gostam de quem fuma muito também", completa.


Depois de um longo dia de trabalho, é hora de pesar os buds - e descobrir quanto rendeu em grana (ou em maconha, já que algumas fazendas também pagam os trimmers em buds) o ofício do dia. "Geralmente, eles pagam depois de um tempo, esperam vender um pouco e com o dinheiro da venda, vão pagando. Nunca pagam no dia, na hora", explica a brasileira. E o medo de ser pego trabalhando de maneira irregular em outro país? "Eu me sentia insegura, sim. Mas é meio difícil, assim, a polícia ir à fazenda. São mini cidades, com xerifes", responde Maria. Pedro, por sua vez, afirma não ter medo e brinca que "só tem que ficar preparado para correr".


O perfil dos trimmers descrito pelos brasileiros é semelhante: gente do mundo todo, com faixa etária entre 18 e 40 anos, de ambos os sexos, que curte viajar, tem disposição de sobra para altas cargas de trabalho - e que, claro, não se intimida com a natureza do negócio. E, enquanto a função não exige profissionais super qualificados (ao contrário de outras posições, como budtender), pode ser uma alternativa para quem quer, por sua conta e risco, mergulhar no mercado canábico.



*Os nomes dos entrevistados foram alterados para preservar sua identidade.

Fotos: acervo pessoal






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